natal, sem N capital

Devo ser a ovelha negra desta sociedade.
O natal para mim é uma época negra e sombria, contrastando com com o natal das pessoas que sorriem com todos os dentes que têm.
Esta época é o exponencial máximo da nossa cultura capitalista e mesquinha.

Espero que o natal arda no Inferno.

Acima e Abaixo

Chego atrasado ao aeroporto e faço o check-in apressadamente
Apanho o voo dos sonhos e ilusões, com destino ao porto das tentações
O céu limpo abre seus braços, convidando viajantes destemidos e aventureiros às portas do seu coração
Ouço o rugir dos motores e aconchego-me no banco apertado mas acolhedor
O meu corpo afunda-se e já não sinto o conforto do piso que outrora me sustentava
Conversas de passageiros e tripulantes contam peripécias e devaneios, aos quais acrescento as minhas palavras ocas e descomprometidas
As nuvens tocam-nos de mansinho e sussurram uma tempestade: chegou a hora de partir
Raios e trovões servem-me um pontapé e desço para o meu destino
Caio no vazio e vislumbro no horizonte o sol a esconder-se
A terra sábia, seca e áspera espera-me pacientemente
...
As feridas do impacto cicatrizaram e as dores desapareceram
Inspiro, expiro, meu coração bate de leve
Apercebo-me então que tenho viagem marcada. Estou atrasado de novo!

O inicio do fim

Não consigo dormir e meus pensamentos me perseguem.

A concha que me deveria proteger, agora sufoca e mata silenciosamente. O gás venenoso dos meus sentimentos, acumulado e dormente, ameaça explodir sem dó nem piedade.

Eis o resultado da triste alegria da vida superficial.