segunda-feira, janeiro 26, 2009

Pessoa má

Ninguém sabe ao certo, mas muitos acreditam que os sonhos são o resultado do processo de manutenção feito pelo cérebro aos nossos pensamentos. Tal como um carro, que quando vai à oficina para ser reparado, necessita de ser desligado, também o nosso corpo aproveita a nossa inactividade para poder tratar da nossa alma.

A minha no entanto, aparenta estar bem destruída e imunda.

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Numa noite febril, eu tive um sonho de forte cariz moral. Foi um sonho longo e penoso, tal e qual a minha noite de sono. Este, muito resumidamente, começa comigo a fazer uma maldade a um moço. Ele olha para mim, com um olhar magoado, e quase dá para ler no seu olhar que ele se sente obrigado a ripostar, pois não existe outra solução.

Ele no entanto não pára de ripostar. Eu começo a correr, e eis que começa o mais típico dos sonhos de um ser humano: correr.

Eu corri durante eternidades e o maldito miúdo não me largava, sempre arreando porrada. Eu no entanto, dava de volta, a ver se ele desaparecia. Mas não, ele simplesmente não me largava.

O fim do sonho aproxima-se. Eu dou-lhe um soco e ele pára e olha para um ponto no infinito, com olhar de quem teve a maior das epifanias.

Olho um bocado mais para trás e vejo uma multidão de pessoas a olhar fixamente para o puto. É aquela típica situação de filme em que a massa popular se junta para ajudar o mais desfavorecido e se prepara para dar uma reprimenda no ser vil e cruel (eu portanto), mas não fazem isso, porque ficaram estupefactos a observar a iluminação de tal personagem.

O maldito chavalo faz alguns gestos e a populaça tenta adivinhar o que ele gesticula. O jogo de pictionary mais doente a que eu alguma vez assisti.

Acabou.

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Há pessoas que têm imenso cuidado com o seu carro e que restringem quem lá entra e o que pode ou não pode fazer lá dentro.

Eu deixei uma pessoa entrar no meu carro e dei-lhe liberdade total. Ensinei-a a conduzi-lo, dei-lhe a conhecer alguns carros dos quais também gosto muito e lhe mostrei quais as estradas que normalmente uso. Quando me apercebi que a rota na qual andava a seguir faz algum tempo, havia sido complemente adulterada por este passageiro, e que rapidamente eu estava a perder o controlo do veiculo, corri essa pessoa a pontapé do meu carro e a atropelei.

O carro está agora completamente cheio de sangue, amolgado, sujo e imundo e, embora o atropelamento já esteja resolvido entre as duas partes, sei que se avizinha uma vingança bem amarga.

domingo, janeiro 18, 2009

Atitude de Revista

O José Raposo deu certa vez uma entrevista para um canal de televisão em que dizia: "Malta jovem, venham à revista! A revista é tão boa e nós ficamos muito tristes por não ter os jovens a assistir."

Não foi dito tal e qual, mas a intenção está patente. Este é o discurso que ouvimos por todos os participantes do teatro de revista: "Mas porque querem acabar connosco? Nós somos tão bons! A culpa é vossa, que não compreendem o teatro a sério! Coitadinhos de nós.."

O que a entidade "revista" não consegue enxergar é algo tão simples quanto isto:
"Se queres mudar o mundo, muda-te a ti mesmo" (Mahatma Gandhi)
Que belíssima frase! Deveria ser a primeira que todos os seres humanos teriam que aprender na sua vida. A revista, no entanto, parece não a conhecer.

Em vez de gastar forças em prantos e lamurias, se esta entidade olhasse para si própria e tentasse modificar toda a sua estrutura, de certo que seria muito melhor aceite pela sociedade, porque é óbvio que ninguém tem prazer em assistir a um espectáculo porque tem pena dos seus participantes.

Eu conheço pessoas assim - e não são poucas - que possuem esta atitude de revista. Por alguma razão, todo o mundo está virado contra elas, e elas não compreendem o porquê de tal repúdio, já que são as pessoas mais dignas e correctas à face da Terra. Abomino tais pessoas e forço-me todos os dias para que não me torne numa das tais.

Mudem! Que o mundo mudará convosco.

domingo, janeiro 11, 2009

Buraka Som da Tanga

Os Buraka Som Sistema são os novos Gift.

Se bem se lembram, nos tempos primordiais dos Gift, eles foram alvo das maiores das atenções: apareciam na rádio, televisão (especialmente na Sic Radical), blitz's, tudo! Como conseguiram tanta atenção? A minha aposta está em que eles são os derradeiros Ed Woods musicais. Tanto persistiram, tanto trabalharam, tanto chuparam pilas, que eventualmente alguém pensou: "Espera aí! Se eles acreditam assim tanto nisto, então até deve ser bom!". Pois bem, não é. As "canções" dos Gift são básicas e mal construídas, e deviam ser queimadas num monte de lixo em conjunto com os mui nobre elementos desta banda.

Só gente bastante influenciável é que poderia gostar de tal monstruosidade.

Os Buraka são a mesma coisa. Tanto persistiram, tanto trabalharam, tanto chuparam pilas, que eventualmente alguém da MTV pensou: "Espera aí! Se eles acreditam assim tanto nisto, então têm de receber o prémio de best portuguese act!". Ou isso, ou o concurso tinha alguma veracidade, e as pessoas que votaram nos Burako Negro são genuinamente estúpidas. O que não deixa de ser uma razão bastante válida, já que a música da tanga já está muito bem aceite pelo público em geral.

Metam isto na cabeça: tenham vergonha de ouvir os Buraka Som Sistema aos altos berros numa zona residencial, porque isso só demonstra a vossa imbecilidade musical, cultural e intelectual.

Wegge wegge? Pó caralho!

terça-feira, janeiro 06, 2009

O Futebol

Haverá coisa mais enfastiante que um blog a falar de futebol?

Conversa de futebol, além de ser do estilo cassete comunista, é extremamente pobre em conteúdo e vazia. Além do mais, o futebol actual (e principalmente o português) é dos desportos mais corruptos, taberneiros e em que ganha quem conseguir fazer mais broches ao seu superior.

Tomem como exemplo a típica conversa de futebol. Os ciclos das conversas são extremamente curtos, isto é, as conversas repetem-se muito rapidamente, apenas modificando os intervenientes das telenovelas futebolísticas. Entediante, e um desperdicio de tempo, na minha opinião.

E nem vou aprofundar o quão corrompido o nosso futebol está. Apontem uma conversa em que não se fale de foras de jogo mal marcados ou lapsos do árbitro. Quando não existe respeito pela autoridade num jogo, algo está bastante errado.

Eis uma teoria: o Homem (com H grande e viril) não pode ver telenovelas, pois isso é abichanado. Como por natureza o ser humano tem o ímpeto de andar a cuscar a vida dos outros, sendo este um impulso quase animal e básico (tal como o sexo), o Homem tem de encontrar o seu refúgio nas telenovelas dignas de um Homem com pêlos no peito. Que melhor que o futebol? Um desporto onde o verdadeiro Homem surge. Um Homem que fala mal e torto, bebe cerveja, come uns amendoins ou tremoços, bebe o seu Johnny Walker, fuma o seu cigarro, escarra para o chão e fala sobre assuntos completamente básicos, que dão um novo sentido à expressão "small talk". Que invenção genial!

Vejam e opinem vocês próprios sobre a profundidade, redundância e superficialidade de tais blogs:

http://faxavor.blogspot.com/2007_08_01_archive.html
http://fbf.com.pt/

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Mais ainda, leiam um jornal desportivo, ouçam a rubrica daquele senhor que fala de futebol na antena 3, ou mais arriscado ainda: falem com um fanático sobre futebol ou PES!